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domingo, 7 de dezembro de 2014

Dicas de Jogo - Como interpretar o Poder Marcial



Há muito tempo que venho pensando nisso. Se for parar para pensar, de fato, esta matéria está bastante atrasada... Enfim.

Muitos rpgistas têm dificuldade em compreender por que o uso das manobras de um guerreiro, ladino, patrulheiro ou senhor da guerra estaria limitado ao formato "por encontro" e "diário", na 4a edição de D&D (e, agora, encaram habilidades de classe que recuperam após ‘descanso curto’ e ‘descanso prolongado’ na 5ª edição, com a maior naturalidade, Hehehe). Outros se questionam como é possível "curar" pontos de vida através de certas proezas (aqui, na verdade, o que ocorre é uma confusão sobre o que significam os pontos de vida na narrativa de jogo, o que já é tema polêmico desde a origem da marca D&D, não foi problema só da 4a). E há os que se perguntam se é correto imaginar um universo de fantasia onde magos e guerreiros têm poder "equivalente e equilibrado" ao longo da progressão de níveis.

Não sei se serei capaz de justificar tudo isso com o texto abaixo, mas acho que consigo elaborar um pouco o tema, para estimular a imaginação. De certo modo, o texto a seguir é o que eu imaginaria como introdução para o primeiro livro 'Poder Marcial', mas infelizmente esse 'fluff' foi deixado quase omisso nesse suplemento, para ser mais bem trabalhado apenas no segundo volume, que nunca foi (nem será) traduzido.

Espero que a leitura seja interessante.

Nota: agradeço ao amigo Alvaro Júnior, do grupo do Facebook D&D Next, pelos inspiradores argumentos sobre o tema nos diversos tópicos onde o tema emergiu, e peço licença para argumentar a partir das suas ideias, que me ajudaram a chegar às conclusões que busquei por longos anos.

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Poder Marcial - O que é? 

O poder marcial representa a capacidade de alguns raros indivíduos de alcançar níveis elevados de competência física e mental através de treinamento árduo, prática repetitiva e disciplina rigorosa. Acima de tudo, o poder marcial não é algo leviano: um soldado qualquer de uma milícia citadina pode dominar as manobras básicas da espada ou da lança, ou proteger-se atrás de um escudo, mas apenas um verdadeiro guerreiro, com talento natural e alto treinamento, consegue ser rápido e intenso o bastante em seus golpes para derrubar vários inimigos em poucos segundos, e deixar tremendo os que sobreviverem, se ainda permanecerem acordados. 

Mais do que ações físicas, muitas proezas marciais envolvem considerável nível de atitude. Autoconfiança, autocontrole, capacidade de intimidar oponentes e, em casos extremos, a superação dos limites do físico através da bravura e da força de vontade. Há quem diga também que a sorte favorece os bravos; se isso verdade, o poder marcial legítimo é, em grande parte, a sorte levada a outro nível.

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Algumas vezes, um Poder Marcial representa o talento do indivíduo para perceber oportunidades, como as fraquezas de um inimigo ou uma abertura na linha de defesa de toda uma tropa. Certas manobras difíceis só se tornam viáveis em momentos especiais, então olho atento e raciocínio rápido se incluem entre as peças fundamentais do uso dessas proezas. Assim entendidos, muitos Poderes por Encontro ou Diários não se tratam de uma escolha - são incisivo oportunismo. 

Finalmente, não se pode esquecer o valor significativo que o moral de uma tropa, o estado de espírito de cada indivíduo e a força do espírito de equipe têm sobre o sucesso de uma empreitada. É fundamentado nesse valor que a Cura Marcial pode ser compreendida.  Um Senhor da Guerra pode incitar seus companheiros a descobrirem em si mesmos capacidades que, em outras situações, nem eles próprios acreditariam ter. Ele pede que ignorem a dor, acreditem em seu potencial, recordem momentos importantes de seus treinamentos e permaneçam focados no sucesso, não nos obstáculos. Disso retiram forças, e quanto mais eloquente forem os discursos e brados de batalha, maiores os resultados, o que se percebe pelos níveis dos Poderes. 

O golpe decidido da lança que perfura até as escamas de um dragão; o manejo ágil da rapieira, que impressiona os aliados e amedronta o adversário; a flecha sorrateira, intuitivamente disparada contra o ponto fraco de uma aberração alienígena; e o brado alucinado do líder na linha de frente, que incita a fúria e a coragem até no espírito mais aflito. Esse é o Poder Marcial! 

Escala de poder dos heróis marciais 

Embora seja fácil imaginar um mago poderoso convocando raios interdimensionais, com olhos faiscantes e fazendo ressoar trovões à volta de seus dedos, raros jogadores conseguem imaginar poder equiparado numa versão marcial. E, de fato, poucos compreendem que essa equivalência transparece nas regras, por razões de mecânica e jogabilidade, mas que o próprio contexto imaginativo-narrativo da 4a edição foi elaborado para levar isso em conta. Está no seu estilo, no seu clima, na sua forma diferenciada, e por essa alteração de paradigma (entre outras razões) que ela se torna única. Esse é o grande equívoco que leva tantos questionadores a vociferarem "a magia sempre tem de ser mais poderosa". 

Compreender a atuação dos heróis marciais exige, portanto, uma definição de escala. 

No estágio heróico, o aventureiro marcial já é um indivíduo acima da média. Atlético, ágil, atento, ousado, corajoso - cada uma dessas qualidades pode estar num grau considerado impressionante. A competência para algumas tarefas pode estar ainda limitada por ocasionais inseguranças ou pela curta vivência, porque ele ainda é um indivíduo "normal", mas no final do estágio, até algumas leis limitantes da física começam a se tornar barreiras mais tênues, ocasionalmente superáveis.

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No estágio exemplar, o aventureiro marcial encontrou, pela persistência no treinamento e pela crescente autoconfiança, maneiras de se tornar algo além do que o conhecimento comum pode explicar em poucas palavras. De certa forma, ela extrapola todas as medidas previsíveis para indivíduos normais, seja no alcance de seus sentidos, na potência dos seus golpes ou na velocidade de seus pensamentos. Se o guerreiro do estágio heróico é como um beagle treinado, o mesmo guerreiro será, no estágio exemplar, um urso atroz armado até as presas.

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O aventureiro marcial em estágio épico não é nada menos do que uma lenda viva, um semideus em potencial e a realidade se dobra diante de seu esforço. Quando ele golpeia, a potência ou precisão descomunal desse golpe não vem apenas de seu movimento, mas da inabalável força de sua determinação e nenhum limite físico se aplica à sua capacidade. Neste estágio, o Poder Marcial também está imiscuído pela magia inerente ao mundo fantástico onde ele se aventura, embora ele próprio possa não estar ciente disso. Ele não é dotado de poder - ele É este poder, em forma de um ser vivo.

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