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terça-feira, 5 de agosto de 2025

Jadepunk - Um incrível jogo Movido pelo FATE

 Não faço resenhas há muito tempo, aqui no Blog, mas senti que precisava, desta vez. Estou talvez uma década atrasado com relação ao tema, mas isso também não importa muito, afinal, jogos, como os livros que os carregam, só envelhecem o quanto lhes permitimos - pelo menos, durante o tempo de nossas vidas, um dia a entropia há de vencer, é verdade. Mas a ideia do jogo, bem, essa só sumirá se a comunidade de jogadores o esquecer, certo?

Então, já está dada a validade à matéria. Quero agora lhes falar sobre minha mais recente fissura no hobby do RPG: Jadepunk. Movido pelo sistema FATE, foi trazido ao Brasil pela editora Pensamento Coletivo. Vejamos em detalhes:

Cenário

Jadepunk é um RPG ambientado em um mundo fictício, focado numa metrópole chamada Kausao, uma cidade abarrotada de pessoas, poluída, tomada por corrupção e criminalidade, governada por um Governador e um Conselho opressores, dos quais advêm leis rígidas que favorecem aos poucos ricos e enfraquecem as chances da classe trabalhador ascender e melhorar sua qualidade de vida.

A tecnologia desse mundo equivale ao nosso mundo no final do século XIX, com fortes modificações trazidas pela visão do gênero ficcional Steampunk. Contudo, não existem a eletricidade como usada na Terra, nem a adoção dos combustíveis fósseis e da pólvora; em vez disso, existe nesse mundo uma variedade de pedras de jade místicas que, depois de extraídas e refinadas na marcante indústria local, adquirem um sem número de finalidades, incluindo mover veículos, prover sistemas de energia e comunicação, criar armas brancas e de fogo e até mesmo curar doenças - para quem puder pagar.

Esteticamente, o mundo de Jadepunk é inspirado nas nações do oriente da Terra em seus períodos mais clássicos, como o Japão da era dos samurais e a China antiga, trazendo também à tona as mudanças visuais que a tecnologia steampunk carrega. A cidade está coberta de fumaça, os rios tomados por rejeitos das indústrias, os céus exibem máquinas voadoras que se assemelham a navios e zepelins.

O mundo vivencia uma era de conflitos. A esperança contra o desespero, a bondade contra a crueldade, a justiça contra a corrupção. Uma grande associação difusa e praticamente informal de  organizações secretas e subversivas se põe contra o governo, formada por heróis e anti-heróis de várias origens, tanto nativos da cidade, quanto vindos das grandes nações do mundo - a Jianghu. Essa rebelião toma cada vez mais força e gera expectativa no povo humilde e sofrido de que o futuro seja melhor, muito embora criminosos estejam se infiltrando na organização, causando conflitos internos e dificultando a tarefa dos verdadeiros guerreiros da liberdade.



Regras

O sistema de jogo de Jadepunk tem suas raízes na versão básica do FATE, mas, segundo pude compreender (pois não sou ainda muito entendido de FATE), algumas modificações foram inseridas. Acho que fez ele um pouco mais "emulador do gênero proposto" e, talvez, mais simples de aprender.

Os personagens são feitos de Aspectos, frases que dizem verdades importantes sobre eles, divididos em cinco tipos: Representação, Antecedente, Incidente Incitador, Crença e Problema. Eles também têm uma pirâmide de qualificações (valores de +0 a +3) nas seis Profissões, que são como Perícias bem abrangentes, ou áreas de atuação. Ainda, tem-se o valor de Recarga, que indica o mínimo de Pontos de Destino com os quais cada personagem pode começar uma sessão de jogo. Esse valor pode variar, conforme o número e poder dos Recursos que o jogador pode escolher, em troca desses pontos. Por sua vez, os Recursos são os Aliados, Dispositivos e Técnicas (especializações, ou manobras especiais, que o personagem pode aprender). A ficha se completa com os marcadores de Estresse e Consequências.

Quando testes são necessários para a realização de alguma ação, é preciso escolher, dentro dos 4 tipos de Ações padrão (Criar Vantagem, Superar, Atacar ou Defender) aquela que melhor representa o intento do jogador. Rola-se, então, quatro dados Fudge/Fate, que são dados de seis lados marcados com símbolos "-", "+" ou vazio, em lugar de números (tendo 2 de cada), fazendo-se a soma dos operadores. Por exemplo: -,-, vazio e + resulta em -1, enquanto -, vazio, + e + significa +1. Agora, soma-se o nível da Profissão adequada à tarefa e é feita uma comparação com o nível de dificuldade estabelecido pelo Narrador (algo entre 0 e 5).

O diferencial aparece agora: o jogador pode escolher invocar um de seus Aspectos, ou um Aspecto da situação, ou até mesmo de algum item, seu ou de outro personagem, tentando obter algum tipo de vantagem que faça sentido na ação, naquele momento. Quase sempre, é preciso pagar 1 ponto de Destino por Invocação, mas algumas invocações podem ocorrer de graça. Quando a invocação de um Aspecto é feita, ela vale +2 para o teste. Certos Recursos também podem modificar os testes ou seus resultados de suas próprias formas. Em contrapartida, o próprio Narrador pode indicar que a situação, ou a oposição "Força" um dos Aspectos do personagem, dificultando a ação, ou impossibilitando-a totalmente, em alguns casos.

Como se vê, não é um sistema difícil, pois tudo o mais são detalhes.


Exemplo

Digamos que seu herói se depare com um inimigo e escolha ir às vias de fato com ele. O herói carrega uma espada de jade verde, enquanto o inimigo tem um revólver de projéteis de jade vermelho. O jogador decidiu se antecipar ao oponente, atacando-o, portanto tem a iniciativa. Ele rola 4dF e obtém: -, vazio, + e +, somando isso à sua Profissão de Combatente (+3), ficando com +4. A sua espada de Jade verde é um de seus Recursos que, por meio de suas Características (indicadas na ficha e geradas durante a criação do personagem), indica um bônus de +1 quando usada contra um inimigo que não porte uma arma de lâmina, totalizando +6. O oponente rola vazio, vazio, vazio e +, somando ao seu bônus de competência de +2 para um total de +3. A diferença faria o herói causar 3 Tensões de dano, que o inimigo, um mero Capanga, poderia absorver com suas caixas de Estresse - ele tem duas, sendo que a primeira absorve 1 de dano, a segunda, 2. Mas o herói, na verdade, não quer dar chance ao inimigo de atirar, então, intuitivamente, presume que um algo mais é necessário e pede ao Narrador para invocar seu Aspecto "Treinado na Letal Arte do Kaiyu-jutsu". Com os novos +2, em troca de 1 Ponto de Destino, o inimigo não terá caixas de Estresse suficientes para absorver o dano e cairá, derrotado.


Conclusão

Jadepunk me conquistou fundamentalmente pelo seu conteúdo de cenário, mas o sistema simples também me cativou, principalmente por sua versatilidade. É até, admito, um pouco confuso no começo, mas depois de entender, a imaginação é o limite. Agora, tenho que pôr tudo isso em prática!